Hoje estou de castigo, sem caminho, sem abrigo, e só me sobrou à busca do continente perdido que perdi entre algum sonho e outro quando me disseram que a terra seria meu lugar. Distraído repentinamente, esqueci que Atlântida era o que eu devia procurar - o sonho de meus pais, a herança do conhecimento, a busca idealista.
Descobri a duras penas que às vezes os ventos erram de direção e que as nuvens,as lindas nuvens, não são feitas de algodão. Contaram que o meu Deus não existe, que a igreja é capitalista e o Papa é imperialista. Porcos chauvinistas! Estão também no poder! A revolução dos bichos de fato ocorreu – Planeta Macaco, homem primata. Queimaram nas fogueiras os meus ídolos. Percebi então, que todos os meus ideais eram apenas moinhos de ventos.
Fizeram-me vender a minha liberdade em troca de espelhos de vários tamanhos e modelos. Venderam a ilusão de que eu era aquilo que aquela lente representava. Não vejo minha alma nesse espelho, apenas um ser pálido - Oh! Cara pálida, cadê meu cigarro de palha?
Nem isso eu posso, é contra as leis, a fumaça que meus antepassados utilizaram. Não queria mesmo... A história relata que todos morreram de overdose. Talvez seja a hora propicia para mais uma dose. Sinto-me como um copo de uísque vazio, com duas pedras de gelo, esperando o doce ardor da verdade, do esquecimento da realidade, aquela meia dose dinamarquesa.
Comprei uma luneta para olhar o espaço, me prenderam por violar a liberdade, invasão de privacidade. Privaram-me da luz dos astros, vi o sol nascer quadrado. Na televisão, relatos de um mundo perfeito – crimes hediondos, guerras sem motivo, quem quer ser prefeito? Pretérito dos méritos, futuro doente. O mundo está em caos e só eu vejo as crianças morrendo de fome, os velhos jogados nos cantos, e os sindicalistas governando.
Quando fugi da prisão, conheci uma garota. Que visão! Doce ilusão. Veneno do escorpião, que acabou de me contaminar contando os delírios de uma juventude sem equilíbrio. Cadê o espírito esportivo? Apenas Karmas destrutivos. Alan Kardec já virou antidepressivo. Universal, a cocaína que Freud cheirou e Marx repudiou - sem pudor. Ai que dor, o poeta morreu e não existem esperanças de ressuscitar no terceiro dia. Cadê o ópio do ópio?
Terremotos, maremotos, entre propagandas hellomoto e hello Kitty, o inferno se abre. A população está sendo incorporada, vitimas ou malditos? A etiqueta mostra made in hell, 100% fogo. Eu to quase acendendo o meu isqueiro. Mas se eu acender, a faísca que ilumina é a que aniquila. Aniquilar-me-ia, e já não sei se quero ir pra onde dizem que vou.
Tô no fim da vida, não existe água no planeta azul.
Baby bora fugir. Tá na hora de voltar pra Atlântida! Vamos procurar? Eu a esqueci em algum lugar. O que você está fazendo sentada aí? Não existe no google, no seu search. Eu tenho o mapa, o mapa da Atlântida. Corre, larga tudo, vem comigo. Deixa de sono, vem viver o sonho, porque os prognósticos afirmam sonolência profunda e eterna ao fim do túnel....
Peraí. Atlântida era pra ser aqui, no fim da página. Perto do ponto final. Não é possível que adicionassem mais uma página aos meus garranchos. Olha ali procure o Capitão Gancho, o Peterpan e o Sancho Pança, eles andam em bando. Não to vendo os guerreiros do apocalipse, cadê? Cadê você Alice? Diga-me, por favor, onde está o País das Maravilhas? Nunca acreditei quando o Peterpan disse que não existe Sininho no mundo Real, NÃO, a terra do nunca – nunca existiu.
Fui enganado mais uma vez. Atlântida, nunca existiu. Ei moço, Não me mate, eu quero ter filhos, eu quero brindar o ano novo, quero me formar também.. Não dá prayboy, você perdeu. Aqui no nosso jogo, é a hora do seu gameover. Malditos ou inocentes?
E assim foi o dia em que Jesus chorou, mais um jovem idealista perdera a vida por acreditar, que não deveria parar de procurar o sentido que jamais viera. Jesus chorou mais um dia, assim continua. Um jovem morre por dia. As lágrimas correm pelo mundo, caindo nos cantos das janelas, olho para fora, as gotas na janela me lembram a última vez que sorrimos juntos. Meus amigos se partiram e não pudemos dizer Adeus. As histórias estão se acabando. Serei eu a próxima vitima? Ou será você? Tenho visto muitos fins, e nenhum foi um conto de era uma vez. Será que este é o fim dos contos, dos irmãos Green? No fim procuramos as fábulas, deveras realidade, o porquê do nome fábula.
Que o Deus que existe, não permita que eu perca a fé, que eu continue procurando ultrapassar meus limites. Se nos largaram no inicio, nos cabe ir até o fim. Não desejo vingar a morte dos que se foram. A cada um a consciência de seus feitos! Espero ver, todas as pessoas que foram, mais uma vez.. E dessa vez não vai ser no jornal.
Paulo Câmara.
Réquiem às lapides que lacraram o sonho de algumas famílias. Em eterna memória aos amigos que se foram, que um dia nos encontremos em Atlântida.